09 junho, 2007

Tirando a poeira.

Em noites vazias, nada como um cigarro como única testemunha de divagações sobre a vida e coisa e tal. Um acerto de contas, o momento do reencontro consigo mesmo. Até que ponto o que se quer, o que se faz é algo puramente seu ou vestígios do que se quer que os demais saibam e esperam de você?

Talvez o grande desafio da vida seja exatamente esse: o de superar todas as expectativas alheias e aceitar a si mesmo. Com todos os defeitos, desejos recalcados, medos, falhas - exatamente como se é. Ou mais ainda, tentar descobrir o que te faz único dentre os outros bilhões de seres humanos da face da terra.

Enquanto observo a fumaça atravessar as grades da janela, penso no que me é peculiar, algo que não tenha nenhuma ligação com o que está do lado de fora. Longe das expectativas, pré-conceitos e idealizações de uma Flávia Novais, estudante de vinte e tantos anos, cabelos, óculos, timidez e por aí vai. O que só eu saiba distinguir, ou deixe escapar apenas aos que estão muito, muito perto.

Medo. Esse talvez seja o meu maior defeito. No momento, o que mais me preocupa. Medo de escolhas, de falsas certezas, de verdades escondidas, do desconhecido. A felicidade me assusta. Como vou saber que estou plenamente satisfeita? Nunca sei o que busco e quando encontro uma direção escolho o caminho oposto. Minhas conclusões sempre são ambíguas, no fim das contas só me restam dúvidas.

Fujo de responsabilidades, apegos, abrigo. Terminar um projeto, um trabalho, um texto, o que seja, é uma tarefa extremamente complicada pra mim. Tão fácil desistir, deixar pra depois, um dia quem sabe tudo se resolve por si só. Os erros são sempre alheios, Fulano não facilitou, Sicrano não se importava, Beltrano era um escroto. Nunca faço o suficiente. É uma tortura imensa saber que meu esforço foi em vão e que de repente tudo se perdeu. Desisto de tudo com uma facilidade inacreditável e me culpo por cada coisinha que ficou pra trás incompleta. Há dias em que a única coisa que gostaria de fazer é mandar tudo pra casa do caralho, deixar uns e outros sentimentos trancados no guarda-roupa e esquecer essa minha eterna preocupaçãozinha ridícula de ser amigável e bla. Não que me orgulhe dos meus defeitos, mas sei que todo mundo tem um quê de diabo. Somos todos humanos, não é mesmo?

Pensar em qualidades próprias é mais complicado ainda. Parece uma auto promoção, como quem diz "pode se aproximar, sou uma pessoa legal!". Mas se existe uma da qual posso dizer que me orgulho, é a de admirar as coisas mais simples. Nada de luxo, o exagero me sufoca. Não gosto de demonstrações públicas de afeto, cartazes, carros de som e toda essa baboseira. Um sorriso, um olhar, um abraço valem mais. Conforto, segurança e cumplicidade me bastam. O que pode ser um defeito também, dependendo do ponto de vista.
Poderia continuar essa auto-análise fajuta fruto de uma noite sem muitas expectativas, porém penso que algumas coisas não precisam ser ditas, já que são unicamente minhas. Daí vocês se perguntam qual a intenção desse texto escroto, afinal. E eu respondo: não sei. Ele não tem uma finalidade em si, se trata apenas de uma tentativa de compreensão.

Talvez um desabafo. Uma demonstração pública do meu cansaço e por que não, do pavor ao descobrir que no fim estamos sós. Acima de todas as faces que assumimos frente aos demais, a essência esta lá, crua e não há como fugir. Somos o que somos e ponto. Fodam-se as idealizações, os anseios, os personagens.

Honestidade consigo mesmo, sem pudores. Acho que é isso, o que realmente vale a pena. O resto é só improviso, encenação.

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