18 fevereiro, 2008

Viagem

Enquanto a senhora tagarela da poltrona ao lado falava incessantemente sobre viagens, comida e mais outras coisas impossíveis de serem listadas e na tv 007 dublado e legendado distraía a quase todos por algumas horas de uma longa viagem estrada afora, a única coisa que conseguia prender a minha atenção era o céu semi-nublado que me espiava lá de fora.

Não pela noite em si, muito menos pela ilusão de que as árvores passavam apressadas por mim ou pelas poucas estrelas que pareciam fugir das nuvens carregadas que enfeitavam o céu. Talvez pela vontade de não estar ali, chegar ao meu destino, não ir a lugar algum.

Não saber o que me espera é um tanto assustador. Isso me fez pensar em tudo que já se passou, no que aconteceu, nas pessoas que conheci, nas que gostaria de ter conhecido e no que eu sempre quis que se tornasse verdade. Concluí que chegou o momento de “virar a página” e começar um outro capítulo dessa tão complicada novela que é a minha vida.

De repente todas aquelas risadas, saídas, filmes, amores, desamores, conversas ao telefone, partidas de jogos, bebedeiras na praia grande, garrafas sendo quebradas na praia, caminhadas pela lagoa, papos na ponte, aziação no Veneto, chororô, jogos de azar na praça [...], agora fazem parte do passado.

E eu não faço a menor idéia do que me espera, apesar de todos os planos e metas já impostos pela minha ansiedade doentia. Mas mesmo com um medo imenso do que pode me acontecer e com uma saudade que dói desde já de tudo que eu preciso deixar pra trás, sinto-me aliviada por todas essas lembranças. Vivi todas as coisas da maneira mais justa, conheci as pessoas certas e já sei quem quero ao meu lado por todo o resto da trama - vocês, amigos.

De parada em parada, a cada placa de saudação ou despedida, percebia que estava ficando cada vez mais distante dessa vida que conheço, de tudo que eu penso saber sobre mim. E a única coisa que me angustiava era o que não foi vivido. Tudo que não foi dito, sentido, cantado, chorado. Essas coisas que pra sempre ficarão no imaginário, que dificilmente terei coragem de assumir, por simplesmente achar que não há mais tempo. Mas se eu soubesse de um segundo extra sequer, antes mesmo de pegar a bagagem, tocar a campainha, essas coisas todas, eu queria ao menos dizer que.

Melhor dormir, esperar a vida mostrar o que realmente está por vir.


"I´m waiting
I wanted to stay
I wanted to play,
I wanted to love you
I'm only this far
And only tomorrow leads my way"


DMB - #41


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